Ajuda-nos a manter viva e disponível a todos esta biblioteca.
Depois das questões levantadas pela popularização dos drones relativa ao poder das máquinas com eventuais tomadas de decisão com bases lógicas analíticas, ressurge a nunca esquecida questão da inteligência artificial e da eventual – para alguns cada vez menos ficcional – substituição de homens por máquinas realmente inteligentes.
Ex Machina, surge pelas mãos do realizador estreante Alex Garland, e leva este tema a um nível superior talvez só alcançado, (com as respetivas deslocações temporais), por Frankenstein e Blade Runner. A expressão ex machina transporta-nos até ao teatro da antiguidade clássica de onde apareceu deus ex machina com o significado de uma solução – saída dos deuses, – algo que aparece inesperadamente no fim de uma peça (poderia ser mesmo um deus) para resolver tramas aparentemente insolúveis. Como se verá o nome faz todo o sentido.
Caleb (Domhnall Gleeson) programador de uma grande empresa de software ganha um prémio que consiste em passar uma semana na mansão nas montanhas, isolada do mundo, do genial, endeusado e inacessível CEO da empresa, o milionário Nathan (Oscar Isaac).
A programada estadia não representava um período de férias. Nathan preparou para Caleb um Turing Test (Alen Turing 1912-1954) a uma androide provida da que será a primeira verdadeira inteligência artificial do mundo, de nome Ava (Alicia Vikander).
Nathan pretende que durante esses dias Caleb perceba se Ava tem emoções ou se apenas as consegue simular e se tem consciência, para muitos a última fronteira entre máquina e Homem. Caleb fascina-se com a ideia e depois com Ava. O teste decorre ao longo dos dias em conversas entre os dois, através de um vidro, percebendo-se o crescimento de uma ligação emocional sempre sob a observação de Nathan, que persuadira Caleb a assinar um acordo de confidencialidade que também o previra.
Caleb percebe que Ava tenta(?) seduzi-lo e fica a saber que se esta falhar no teste a sua memória é limpa e Nathan continuará em frente, por isso tentará ajudá-la. Ela sabe-o também e vai tentar sobreviver. Será este afinal o último elemento de prova?
Estruturalmente impecável, esteticamente minimalista e visualmente agradável, o filme é rico e intenso, e transporta a humanidade toda para dentro daquela isolada mansão-laboratório numa história muito bem construída, que traz a ficção científica séria de volta à ordem do dia.
A beleza do design de todo o corpo de Ava é digna do belíssimo rosto e linguagem corporal de Alicia Vikander.
Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.