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26 de Novembro, 2014
Realejidades…
A fusão das sonoridades celtas na musica tradicional europeia, a sanfona, os cordofones portugueses, as gaitas de fole, a tradição oral, movimento new-folk em portugal e o grupo Realejo a navegar em todos estes mares.
O grupo Realejo já anda entre nós faz quase 15 anos. Apesar disso editaram apenas 3 trabalhos o que de algum modo os torna ainda mais valiosos, Sanfonias (1995), Cenários (1998) e Ruja Ruja Quem Quiser Que Fuja! (2011), mas foram dando sempre concertos em Portugal e também no estrangeiro. No início de 2005 foram selecionados para representar o nosso país no Festival de Músicas do Mundo, Dock de Suds, em Marselha (França); em 2012 tocaram no mítico Festival Celta de Sendim partilhando o palco com os também míticos Gwendal.
Realejo foi um dos grupos convidados a participar nos Rencontres Internacionales des Luthiers et Maîtres Sonneurs de Saint Chartier em 1997, tendo sido a primeira vez que um grupo português esteve presente neste santuário das músicas do mundo.
Fernando Meireles, com a ajuda de Amadeu Magalhães criou o grupo em 1990.
O grupo surgiu como consequência do seu trabalho de investigação e recuperação de instrumentos tradicionais portugueses. Entre eles destaca-se a sanfona, que havia desaparecido do universo musical durante o século XIX.
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O grupo tem na música tradicional europeia o seu campo de trabalho e inspiração, e a sanfona e bandolim ficam a cargo de Fernando Meireles que para além de os tocar também os constrói; Fernando Meireles é um artesão com oficina no edifício da Associação Académica em Coimbra, estudou, construiu e divulgou como ninguém a Sanfona, um instrumento medieval muito popular na Europa e que também se tocava nas ruas de Coimbra. Tem fabricado com elevada qualidade para além da Sanfona, o Cavaquinho, o Bandolim, a Guitarra Toeira e a Guitarra Portuguesa. São muitos os músicos virtuosos da cena folk actual que tocam os seus instrumentos e um desses músicos é o próprio Amadeu Magalhães.
Amadeu Magalhães iniciou a carreira profissional em 1990 com os Realejo em Coimbra, grupo do qual é responsável musical até hoje. Mais tarde integrou o grupo de música medieval e renascentista, Ars Musicae, a tocar sopros e em 1999 integrou o grupo Quadrilha. A par destes grupos, trabalhou ainda com Fausto, Dulce Pontes, José Cid, Roberto Leal, Né Ladeiras, Brigada Vitor Jara, Anabela, Chico César, Claud, Ginga, Paulo Bragança, Paulo de Carvalho, Terra D’água, Uxia, Zeca Medeiros, Helena Lavouras e Luis Represas.
Leciona instrumentos tradicionais no GEFAC (Grupo de Etnográfia e Foclore da Academia de Coimbra) e na Secção de Fado da AAC (Associação Académica de Coimbra), em Coimbra desde 1994 e é ainda responsável musical do grupo de cordas da secção de fado da AAC. A sua capacidade de composição e o virtuosismo com que toca os mais diversos instrumentos desde a concertina, ao cavaquinho, passando pela gaita-de-foles, bandolim, as flautas, torna-o num dos mais importantes instrumentistas portugueses na sua área, se não o mais importante.
Em Sanfonias os diversos instrumentos tradicionais coabitam com instrumentos mais clássicos como a guitarra clássica, o violino e o violoncelo, na altura tocados por Rui Seabra, Manuel Rocha e Ofélia Ribeiro respetivamente.
Em Cenários essa coabitação continua mas os instrumentos tradicionais começam a ganhar alguma preponderância.
Depois de Cenários passou a existir um Realejo mais virado para os concertos ao vivo, os instrumentos mais clássicos acabaram mesmo por desaparecer e entraram para o grupo Miguel Veras (guitarra acústica) e Jorge Queijo (percussões).
O Miguel é um guitarrista multifacetado de rara sensibilidade musical, tem o privilégio de tocar com dois mais conhecidos e virtuosos dos cordofones portugueses, Júlio Pereira e Amadeu Magalhães, mas também se poderá dizer o contrário, ou seja que estes dois virtuosos têm o privilégio de tocar com Miguel Veras.
Jorge Queijo trouxe para os Realejo um setup peculiar de bateria com adufes, canas e bombo tradicional, e o grupo ganhou ritmo, ficou mais capacitado para os concertos ao vivo. – Agora é vê-los a saltar (ao publico) nos concertos …!
Ao mesmo tempo entrou em cena Catarina Moura, cantora da Brigada Vitor Jara e das Segue-me á Capela, e o grupo tomou a forma com que gravou Ruja Ruja Quem Quiser Que Fuja e que se manteve até aos dias de hoje.
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Para além da recuperação da Sanfona, para além da abordagem progressista de alguns instrumentos como o Cavaquinho e as percussões, a originalidade do formato quer em estúdio quer ao vivo, recuperam também a tradição oral através da voz límpida e cristalina da Catarina e o resultado final é tanto surpreendente quanto extraordinário.
Toda esta soma de valores torna o grupo num dos mais importantes defensores culturais do universo folk em Portugal e num dos seus mais dignos representantes.
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Musico, entusiasta de cordofones que gosta de falar de música, da sua alquimia e do seu indelével sentido cultural.